quarta-feira, 2 de novembro de 2011
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Nunca soube
Dançava na minha tristeza,
o fumo do cigarro
queimava o olho
esquerdo
desenho a régua e esquadro para a irritação.
O próprio fulgor da
lágrima
o calor da água
qualidade tão extrínseca à água daqui
destes lados
desta varanda e deste olho que experimenta o frio dos
afectos
a diáspora do quente neste corpo que não sendo sazonal
(não sendo por isso diáspora,
é um hábito já falar assim, quero ser História)
é para mim um fado a que estou já acostumado
embrenhado até aos calcanhares
nesta minha infantilidade de nem sequer saber estar
triste.
Adriano J. Morgadinho
terça-feira, 11 de outubro de 2011
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
Poemas de Tomas Tranströmer
HISTÓRIAS DE MARINHEIROS (1954)
Há dias de inverno sem neve em que o mar é parente
de zonas montanhosas, encolhido sob plumagem cinza,
azul só por um minuto, longas horas com ondas quais pálidos
linces, buscando em vão sustento nas pedras de à beira-mar.
Em dias como estes saem do mar restos de naufrágios em busca
de seus proprietários, sentados no bulício da cidade, e afogadas
tripulações vêm a terra, mais ténues que fumo de cachimbo.
(No Norte andam os verdadeiros linces, com garras afiadas
e olhos sonhadores. No Norte, onde o dia
vive numa mina, de dia e de noite.
Ali, onde o único sobrevivente pode estar
junto ao forno da Aurora Boreal escutando
a música dos mortos de frio).
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A ÁRVORE E A NUVEM (1962)
Uma árvore anda de aqui para ali sob a chuva,
com pressa, ante nós, derramando-se na cinza.
Leva um recado. Da chuva arranca vida
como um melro ante um jardim de fruta.
Quando a chuva cessa, detém-se a árvore.
Vislumbramo-la direita, quieta em noites claras,
à espera, como nós, do instante
em que flocos de neve floresçam no espaço.
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DESDE A MONTANHA (1962)
Estou na montanha e vejo a enseada.
Os barcos descansam sobre a superfície do verão.
«Somos sonâmbulos. Luas vagabundas.»
Isso dizem as velas brancas.
«Deslizamos por uma casa adormecida.
Abrimos as portas lentamente.
Assomamo-nos à liberdade.»
Isso dizem as velas brancas.
Um dia vi navegar os desejos do mundo.
Todos, no mesmo rumo – uma só frota.
«Agora estamos dispersos. Séquito de ninguém.»
Isso dizem as velas brancas.
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PÁSSAROS MATINAIS (1966)
Desperto o automóvel
que tem o pára-brisas coberto de pólen.
Coloco os óculos de sol.
O canto dos pássaros escurece.
Enquanto isso outro homem compra um diário
na estação de comboio
junto a um grande vagão de carga
completamente vermelho de ferrugem
que cintila ao sol.
Não há vazios por aqui.
Cruza o calor da primavera um corredor frio
por onde alguém entra depressa
e conta como foi caluniado
até na Direcção.
Por uma parte de trás da paisagem
chega a gralha
negra e branca. Pássaro agoirento.
E o melro que se move em todas as direcções
até que tudo seja um desenho a carvão,
salvo a roupa branca na corda de estender:
um coro da Palestina:
Não há vazios por aqui.
É fantástico sentir como cresce o meu poema
enquanto me vou encolhendo
Cresce, ocupa o meu lugar.
Desloca-me.
Expulsa-me do ninho.
O poema está pronto.
[Via Bibliotecário de Babel]
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
Só falta ressuscitarem o Stanley Kubrick. Não deve ser assim tão difícil um deus qualquer concordar no milagre
Stephen King prepara sequela para de The Shining. Ver aqui.
terça-feira, 27 de setembro de 2011
Intertextualidades
Uma concorrente do Secret Story disse que o primeiro amor da vida dela foi uma cruz. Em "A fase azul de Daumier-Smith", conto de J. D. Salinger, uma freira, ao pedirem-lhe uma foto sua, manda a do mosteiro onde vive.
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
terça-feira, 20 de setembro de 2011
Ars poetica
Era um poeta telúrico,
andava muitas vezes descalço.
A pena descansava na secretária de direita e
o caderno
azul
pautado
lancinantemente em branco
outorgava-lhe a fama (fama individual, mas fama)
de ser um Torga farense.
Adriano J. Morgadinho
andava muitas vezes descalço.
A pena descansava na secretária de direita e
o caderno
azul
pautado
lancinantemente em branco
outorgava-lhe a fama (fama individual, mas fama)
de ser um Torga farense.
domingo, 11 de setembro de 2011
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Houellebecq, brevemente
O prémio Goncourt do ano passado (La Carte et le Territoire, de Houellebecq) está a chegar ao nosso país. Desta feita é a editora Objectiva que pega no autor mais polémico da França. A ansiedade aumenta, depois do soco na barriga de "A possibilidade de uma Ilha". As temáticas são as mesmas, o próprio Houellebecq figura no rol de personalidades da cena artística francesa representados na obra. Lançamento previsto para final de Setembro.
A rentrée da Objectiva fica também marcada pelo lançamento do livro novo de valter hugo mãe, O filho de mil homens.
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
De volta a Crime e Castigo
«Existir, apenas, nunca tinha sido bastante para ele, sempre quisera mais.»
[in Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski, trad. de Nina e Filipe Guerra, Presença, 2008, pág. 505]
terça-feira, 2 de agosto de 2011
domingo, 31 de julho de 2011
Arte Contemporânea
Unir -
tentar unir
até resultar -, a Guerra e Paz
e
of Montreal.
Adriano J. Morgadinho
tentar unir
até resultar -, a Guerra e Paz
e
of Montreal.
terça-feira, 26 de julho de 2011
A Ilha de Sukkwan, II
«E recomeçou a chorar. Eu sei que não estou só, lamuriou-se ele. Sei que estás aqui. Mas sinto-me na mesma só. Não sei como explicar.
Roy ficou à espera do resto, mas o pai só chorava e continuou assim durante muito tempo, sem que Roy compreendesse como podia estar ali e mesmo assim, para o pai, era como se não estivesse.»
[in A Ilha de Sukkwan, de David Vann, trad. de José Lima, Ahab, 2011, pág. 75]
segunda-feira, 25 de julho de 2011
Lhasa, I
A música acendalha.
o carro com tudo
trancado, eu trancado
no carro.
A tristeza livre, em estéreo.
Adriano J. Morgadinho
sexta-feira, 22 de julho de 2011
A Ilha de Sukkwan, I
«Quando qualquer coisa mordeu, era uma Dolly Varden: um relâmpago branco e um puxão. Puxou-a facilmente para os seixos lisos, onde ficou a estertorar e a sangrar, e Roy retirou o anzol e esmagou-lhe a cabeça e a truta morreu. Já há um bom bocado que não pescava um peixe, quase um ano. Curvou-se para o observar e ver ver as cores a desvanecerem-se.»
[in A Ilha de Sukkwan, de David Vann, trad. de José Lima, Ahab, 2011]
[in A Ilha de Sukkwan, de David Vann, trad. de José Lima, Ahab, 2011]
quinta-feira, 21 de julho de 2011
Introdução e Tabela de Conteúdos
O Homem do Fraque acabou (um obrigado aos que leram o blogue). Vou fazer aqui o que fiz n' O Homem do Fraque, mas sem as entrevistas [por enquanto; agora não dá mesmo (um agradecimento especial ao Gavine, ao Luís, à Isa e ao Fábio pela disponibilidade)]. As novidades, os escritores e outras coisas, mais ou menos aleatórias, continuam. Junto-lhes escritos meus e coisas de outros que goste. Fiquem para o desenvolvimento e para a conclusão.
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